Consumo das famílias aponta para ritmo mais lento que o necessário e indefinição com eleição assusta; em agosto, índice de gerente de compras apontou uma contração “sólida” na atividade
Se o setor de serviços foi o principal responsável pelo crescimento do PIB durante o segundo trimestre, no terceiro, a expectativa é de estagnação. Em agosto, a atividade do setor teve a queda mais acentuada desde fevereiro de 2017, segundo índice de gerentes de compra (PMI ) da IHS Markit.
O indicador retraiu para 48,8 pontos em agosto ante 50,4 pontos em julho. Motivado por um “enfraquecimento da demanda”, o recuo foi mais um componente que indica para possível estagnação do setor entre julho e setembro; entre abril e junho, houve uma variação positiva de 0,3%.
“A tendência é que os serviços caminhem mais lentamente no terceiro trimestre, até mesmo para estabilidade”, afirmou o chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.
Para o economista, ao favorecer exportações, a desvalorização do real deve permitir que “agronegócio e indústria assumam papel principal no crescimento da economia”. Enquanto isso, o setor de serviços – que acumulou alta de 1,4% no primeiro semestre – deve ser afetado negativamente pela recuperação por demais lenta do consumo das famílias.
“Os serviços têm sido impulsionados pelo consumo das famílias, que, nos últimos trimestres, tem sido o ‘motor 1.0’ do crescimento do PIB. No terceiro trimestre, eu creio que ele vá ser fraco”, sinalizou Bentes. Opinião similar é expressa pelo economista da Fecomércio MG, Guilherme Almeida – que prevê “uma certa estagnação para os serviços” durante o período de julho a setembro.
“O cenário é contrabalanceado”, afirma Almeida. “A inflação se comporta positivamente apesar da paralisação [dos caminhoneiros, em maio]. O crédito vem sido retomado, ainda que de forma lenta. Mas quando olhamos dados do desemprego, que para serviços é um fator crucial, ainda há uma influência negativa”.
“Na margem, [o emprego] tem respondido de forma positiva, mas há expansão da informalidade e retração de carteira assinada, com salários menores. Isso gera demanda menor das famílias”, prosseguiu Guilherme Almeida.
Para Bentes, da CNC, a mesmo movimento afetará o comércio: se o volume de vendas do setor avançou 5,8% no primeiro semestre, a expectativa de consumo familiar moderado deixa a expectativa para o segundo semestre em 3%.
Soma-se a isso a “falta de confiança dos agentes de serviços motivada, sobretudo, pelas eleições”, conforme Almeida, da Fecomércio MG. “As empresas aguardam com expectativa as eleições, prevendo, a partir de então, um caminho mais claro para as políticas do governo que possam apoiar os investimentos”, corroborou em nota a economista principal da IHS Markit, Pollyanna de Lima.
O represamento dos investimentos pelos empresários chama a atenção de Fabio Bentes. “Qualquer estímulo de consumo sem contrapartida de investimentos gerará, pela lei de oferta e demanda, inflação. Esse comportamento do investimento preocupa.”
Demanda eleitoral
Para o presidente da Confederação Nacional dos Serviços (CNS), Luigi Nese, a eleição pode, de alguma forma, colaborar com o setor e compensar a redução da atividade do setor de serviços em agosto.
“Em setembro haverá toda uma demanda que é própria do período eleitoral”, afirmou o dirigente – que não descarta que o setor, no terceiro trimestre, alcance resultados semelhantes aos registrados entre abril e junho.
Entre os setores que podem ser beneficiados estão comunicação, publicidade, eventos e logística. Ainda assim, Nese admite que muitos empresários do setor não estão plenamente seguros. “Mas isso é passageiro. Assim que ficar mais claro como será a eleição, reagiremos positivamente”.
Conforme lembrado por economistas, os diferentes segmentos de serviços atravessam cenários bastante distintos em 2018. “[No segundo trimestre], os serviços de transportes apresentaram retração. Já informática e comunicação, financeiros como seguros e atividades imobiliárias apresentaram expansão”, explica Guilherme Almeida.
Fonte: O Estadão