Levantamento divulgado pela organização não governamental Transparência Internacional (TI) ontem mostrou que o Brasil avançou quatro posições no levantamento global de percepção da corrupção no setor público. O país apresentou ligeira melhora no ranking, saindo da 73ª para a 69ª colocação entre 176 países pesquisados.
Na comparação com os vizinho latino-americanos, o Brasil ainda aparece bem atrás de Chile e Uruguai, que dividem a 20ª colocação entre os países com menor percepção de corrupção. Mas está bem à frente da Argentina (105º colocado) e da Venezuela (165º), este último percebido pelos pesquisados como país mais corrupto da região. O levantamento agrega dados obtidos em diversas pesquisas com empresários, investidores e analistas de mercado do mundo todo.
Em seu relatório, o diretor regional da Transparência Internacional para a América Latina, Alejandro Salas, colocou o Brasil como um exemplo positivo, por conta da “aprovação e implementação de leis importantes como a Lei Ficha Limpa, que limita o acesso de pessoas com processos judiciais pendentes à política”. Ele também cita o julgamento do mensalão como mostra de que o país não permite mais que prevaleça a impunidade em casos de desvio de dinheiro público, mesmo que isso envolva proeminentes figuras políticas.
Para Jorge Sanches, presidente da Amarribo, organização não governamental que representa o Brasil na TI, o Brasil tende a melhorar sua posição no ranking nos próximos anos, já que leis importantes como a de Acesso à Informação, que passou a vigorar este ano, não tiveram seus efeitos captados pelo levantamento. “Ações recentes como a Lei da Ficha Limpa e a Lei de Acesso à Informação são mecanismos importantes cujos resultados só serão notados em três ou quatro anos”. Para ele, não há contradição no fato de o país ter sido percebido como menos corrupto que antes em um ano em que um julgamento como o do mensalão teve ampla repercussão. “Pelo contrário. O julgamento foi transmitido pela televisão ao vivo, debatido a exaustão. Teve efeito didático ao mostrar a justiça funcionando”, avalia.
O índice de transparência, no entanto, é questionado em sua validade por especialistas. O pesquisador do centro de política e Economia do setor público da Faculdade Getúlio Vargas (Cepesp-FGV) Sérgio Praça diz que falta clareza nos critérios da pesquisa. “A validade acadêmica desse índice é nula. Não serviria nem para tese de mestrado”. Como exemplo, ele lembra que a nota da China no índice é 39 (80ª colocação). “A china é percebida como só um pouco mais corrupta do que o Brasil, que tem nota 43. É um absurdo. A China é uma ditadura de partido único, na qual a entrada no serviço público é condicionada à filiação partidária. O Brasil, apesar de todos os problemas, é uma democracia competitiva com uma burocracia relativamente despolitizada”.
Praça ressalva que a percepção de que o Chile é um país mais transparente que o Brasil é correta e que o país já há quase duas décadas aperfeiçoa seus mecanismos de transparência. O país fez uma grande reforma no serviço público, com a diminuição de cargos de indicação política e deu mais clareza ao seu modelo licitatório.
Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia foram os países considerados mais transparentes pelos pesquisados. Somália, Coreia do Norte e Afeganistão, os mais corruptos.
Fonte: Valor Econômico